Ampliação na oferta deixa a carne mais barata

A carne bovina ficou mais acessível ao consumidor no ano passado. Com a queda no preço da arroba e o aumento do volume de abates, houve um crescimento da oferta interna do produto e os preços dos cortes foram reduzidos nos açougues e supermercados de Goiânia. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que pesquisa o custo da cesta básica na capital, a carne bovina de primeira ficou 11,8% mais barata em 2023.

Desde janeiro de 2023, o preço da arroba do boi gordo caiu 14% em Goiás. A chamada ‘vaca casada’, vendida pelas indústrias aos açougues e supermercados, que oscilava entre R$ 16 e R$ 17 em janeiro do ano passado, hoje custa entre R$ 15 e R$ 15,50. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial de Goiânia, o consumidor pagou até 14,8% menos pelo quilo da costela e 11,7% menos pelo acém em 2023.

Um dos motivos foi o aumento do número de abates. De acordo com Pesquisa Trimestral do Abate de Animais do IBGE, no terceiro trimestre do ano passado, houve um aumento de 11,4% no volume de abates em relação ao mesmo período de 2022. O volume de exportações de carne bovina fechou 2023 com um crescimento de 27,7%, enquanto o valor cresceu apenas 1,8%, indicando queda nos preços.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes no Estado (Sindicarne), Leandro Stival, lembra que, além da queda no preço da arroba do boi, também houve um recuo na cotação do dólar. Com isso, os preços voltaram ao patamares de 2019, antes da pandemia. “Os valores caíram no mundo, num ajuste pra baixo. Para 2024, a previsão é de estabilidade”, acredita.

O presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Silei Antônio do Couto, lembra que o País viveu um período de preços muito elevados da arroba, até por conta do aquecimento do comércio externo. Em 2023, a queda no preço chegou aos valores pagos pelo consumidor, o que causou uma retomada do consumo.

“Em 2022, tivemos uma queda média de 20% nas vendas de carne bovina. Já no ano passado, com os preços mais baixos, esta perda foi recuperada e as vendas atingiram um patamar razoável”, diz o presidente da Agos.

Segundo ele, este movimento de retomada favoreceu as vendas de outros produtos nos supermercados, como carvão, mandioca e até a cerveja, para completar o churrasco. “Hoje, muita gente aproveita as promoções semanais para comprar um pouco mais e ter algum estoque em casa. Antes, todo mundo comprava só para consumo diário”, informa Couto.

Açougues

Os proprietários de açougues também registraram uma reação nas vendas, mas que foi menor do que nos supermercados. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas no Estado (Sindiaçougue), Silvio Yanussanaga Brito, lembra que os preços da carne bovina chegaram a subir um pouco em dezembro, por conta do aumento na demanda. Mas, neste início de ano, as vendas já desaceleram e o preço voltou a cair.

Ele acredita que o consumo não está mais aquecido porque o poder aquisitivo da população ainda está baixo. Além disso, o início do ano é um período em que o consumidor tem muitos compromissos financeiros, o que reduz a demanda e os preços. “Há muita influência da oferta e demanda. Quando o mercado está aquecido, o preço vai lá em cima. Quando passa euforia, há uma queda acentuada e volta ao que era antes do fim do ano”, destaca.

O presidente do Sindiaçougue concorda que houve uma melhora nas vendas, mas que não foi tão significativa, ficando na faixa dos 8% a 10% na média geral do ano. “No final de ano, com os aumentos que aconteceram, as vendas voltaram a esfriar e tiveram um crescimento de 1% a 3% sobre o mesmo período de 2022. Esperávamos bem mais”, afirma. Segundo Yassunaga, o preço da vaca casada entregue aos açougues, que estava em torno de R$ 16 o início de 2023, hoje oscila entre R$ 15 e R$ 15,50. “Tivemos uma queda em meados de 2023, mas voltou a subir no fim do ano e permanece estável”, avalia.

Para os proprietários de açougues, a queda no preço ainda não foi suficiente para elevar a vendas a patamares razoáveis. Fernando Novelli Borges, da Carnes Boi Verde, afirma que suas vendas permaneceram estáveis em relação ao ano anterior. Para ele, a reação ficou aquém do esperado porque o poder aquisitivo da população está baixo. “As pessoas passaram a optar por cortes mais acessíveis, reduzindo o tíquete médio. Isso ocorreu com clientes de todas as classes, do grande empresário ao assalariado.”

Para José Carlos de Brito Coelho, da Casa de Carnes Praça do Avião, a queda no preço da carne foi razoável, mas em compensação, o poder aquisitivo da população também caiu muito porque os preços subiram de forma generalizada. “Outros produtos muitos consumidos, como o arroz, pressionam muito o orçamento das famílias, que reduzem as compras. Por isso, foi ano de recuperação pequena nas vendas”, diz.

O empresário Josias Félix de Lima, da Casa de Carne Natal, também acredita que o baixo poder aquisitivo da população impediu um aumento mais significativo das vendas, mesmo com a queda nos preços. Segundo ele, hoje a vaca casada está sendo vendida por R$ 15,40, contra cerca de R$ 17 no mesmo período do ano passado. “Mas o povo está sem dinheiro”, afirma.

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