Eduardo Amorim
O setor varejista segue se perguntando: onde estão os trabalhadores? A cada ano, o número de autodemissões cresce, e as vagas abertas no comércio seguem sem candidatos. No ano passado, quase 8,5 milhões de trabalhadores pediram demissão voluntariamente, estabelecendo um recorde histórico no país. O motivo apontado foram insatisfações profundas com as condições laborais oferecidas atualmente.
O comércio varejista enfrenta um problema estrutural que não será resolvido apenas com cursos ou benefícios governamentais reduzidos. O trabalhador precisa de um motivo real para se comprometer com uma vaga, e isso começa por salários dignos, benefícios sociais justos e condições adequadas de trabalho.
Sem isso, o resultado é previsível: ninguém quer se submeter a um emprego onde é vigiado até para ir ao banheiro, passa o dia inteiro em pé sem direito a descanso e enfrenta metas impossíveis de serem alcançadas. Outro fator que não pode ser ignorado é a precariedade do transporte público. O trabalhador que precisa estar às 8 horas no emprego é o mesmo que enfrenta frotas insuficientes, longas esperas e veículos lotados.
Uma solução viável seria escalonar os horários comerciais, reduzindo o fluxo concentrado nos mesmos períodos e permitindo que mais pessoas utilizassem o transporte com dignidade. Mas enquanto nada é feito, o resultado é um só: menos gente disposta a enfrentar esse desgaste diário.
Os empresários têm feito seu possível investindo em cursos para melhorar a qualificação da mão de obra. Mas de que adianta ensinar sobre autoeficiência sem oferecer reconhecimento pessoal e financeiro? O próprio Seceg enfrenta dificuldades para fechar Convenções Coletivas que garantam, além de melhores salários, benefícios que realmente incentivem o comerciário a acordar cedo e se dedicar à sua função.
Nas mesas de negociações de pisos salariais sempre colocamos que é necessário algo além, o que conseguimos diante de muitos confrontos, desgastes e pedidos de socorro a órgãos como Ministério Público do Trabalho e a própria Superintendência Regional do Trabalho em Goiás. Levamos propostas viáveis de benefícios sociais que possam socorrer o empregado em momentos específicos da vida como o nascimento de um filho, o desemprego ou até a morte inesperada.
Enfrentamos forte resistência do setor patronal, mas seguimos firmes em nossa missão sindical, sempre tentando o melhor para quem representamos — os comerciários. Há especialistas que também apontam a busca do empregado por um equilíbrio melhor entre vida pessoal e profissional. Mudanças comportamentais, principalmente, entre os profissionais mais jovens que têm o desejo de iniciar o próprio negócio.
Culpar o governo ou os benefícios sociais para tantas vagas abertas é ignorar que o problema começa dentro do estabelecimento. A solução está em valorizar o trabalhador de forma justa, garantindo condições que tornem a rotina viável e atrativa. Sem isso, as vagas seguirão abertas e os trabalhadores seguirão buscando alternativas de ganhos maiores.
Eduardo Amorim, Presidente da Federação dos Trabalhadores no Comércio nos Estados de Goiás e Tocantins (FETRACOM GO/TO) e vice-presidente da CNTC e da SECEG
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